sexta-feira, 13 de junho de 2008

Algo que o Amor me escreveu...

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Onde tu pousas as mãos,
naturalmente eu vou pousar as minhas.
Um silêncio faz-se pela casa, uma luz coada vem da janela
e cobre os móveis de uma poalha doirada.
Os objectos estão quietos como nunca

Onde tu pousas as mãos,
onde tu pousas mesmo se brevemente as mãos,
torna-se íntima a percepção que se tem de cada hora,
de cada amanhecer, de cada exacto momento.
O entardecer é só um vasto campo que se abre,
um rumor de folhas que restolham no jardim.

Escrever é ler, ler é escrever -
eu sei isso porque em cada sítio onde [do meu corpo]
tu pousaste as tuas mãos ficou escrito
- eu vejo-o: nítido - sobre o mais frágil espelho dos sentidos,
uma palavra que se lê de trás para diante.
Quando te deitas eu sinto-lhe o perfume,
que é o da noite que entra pela janela.

E onde tu pousas as tuas mãos faz-se um rio
de prata e de quietude mesmo nas minhas mãos
que pousam onde as tuas foram antes procurar
a quietude, procurar as tuas mãos.
São exactas as tuas mãos,são necessárias,
têm dedos que são os filamentos de gestos
que descrevem na penumbra desenhos tão perfeitos
que surpreendem.

Onde tu pousares as tuas mãos
eu quero estar.
Exactamente como a sombra
cai na sombra.
A água na água. O pão nas mãos.

-Bernado Pinto de Almeida

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